A deputada federal Iris Araújo (PMDB) voltou a atacar
potenciais aliados nos últimos dias. Depois do correligionário Maguito Vilela,
os alvos da vez foram os petistas anapolinos Rubens Otoni, seu colega de
Câmara, e Antônio Gomide, prefeito da cidade. O veículo das queixas é o
microblog Twitter, tribuna preferencial da deputada: “Bacana a entrevista do
Otoni sobre 2010. Só faltou dizer por que Anápolis não se integrou na campanha
do mesmo ano. Será diferente agora?” A deputada se refere a entrevista no
jornal Tribuna do Planalto.
A crítica de Dona Iris é dura e procede. Os irmãos pouco
fizeram para transferir ao então candidato a governador Iris Rezende (PMDB) a
grande popularidade de que gozam na cidade, especialmente o prefeito, reeleito
com quase 89% dos votos válidos em 2012. Em 2010, Iris teve modestos 25,59% dos
votos válidos em Anápolis; o eleito, Marconi Perillo (PSDB), 74,41%. Isso no
segundo turno! Pegou muito mal para Gomide. Deixou até a impressão de boicote.
O problema é que, se a crítica de Dona Iris tem motivo, o
momento não poderia ser mais inoportuno. Sem medir palavras (bem ao seu
estilo), a deputada abala a já complicada aliança PT-PMDB no Estado. Não há um
consenso natural sobre um acordo para 2014. Há os que defendem e os que
rejeitam. Diálogo e moderação seriam fundamentais para o êxito. E nesse
quesito, Dona Iris joga contra.
Não é possível codificar a atitude da deputada, se ela é
feita a revelia do marido, a quem o apoio do PT é fundamental, ou se por
estímulo dele, o que pareceria absurdo. A não ser que já esteja definido nos
bastidores, via palácios do Planalto e do Jaburu, uma aliança em torno do
empresário José Batista Junior (Junior do Friboi), como noticiou a coluna Radar
On Line da Revista Veja.
A assa tese poderia ser agregado algum fundamento se
analisada sob a ótica nacional e a recente queda de braço entre o PMDB e a
presidenta Dilma Rousseff. O partido está dividido sobre a continuidade do
apoio ao PT em nível nacional (movido obviamente pelos baixos índices de
aprovação da petista) e Iris demonstrou estar ao lado dos dissidentes quando
recebeu em sua casa o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), após o
anúncio da filiação de Batista Júnior. Nesse contexto, não importaria a Iris
preservar o PT.
Mas, mesmo com o suposto conluio nacional, essa não parece
ser a estratégia mais inteligente. A Iris, é evidente, calharia o apoio do
partido de Lula a um projeto de disputa governamental em 2014. Para isso tem o
apoio e o compromisso do afilhado Paulo Garcia. O prefeito de Goiânia, no
entanto, não tem controle estrito do partido. Longe disso. Se Iris entra numa
disputa isolado, reduz em muito as suas chances. O ex-prefeito deveria, assim,
adular o PT.
Mas então, o que move o ímpeto de Dona Iris?
Fundamentalmente sua índole belicosa e, inconscientemente
(ou não), o desejo de que o candidato da aliança fosse... Ela própria.
A deputada sempre que pode descreve o perfil do candidato
ideal das oposições em Goiás: “Já disse e reafirmo; só apoiarei um candidato
que realmente tenha um discurso de oposição. Blá, blá, blá para inglês ver não
é comigo”, tuitou neste domingo (5), e completou: “Já estou bem ‘velhinha’ para
não ter escolhas. O PMDB é grande demais para ser apenas um partido adjutório.
Merecemos consideração e respeito.”
O “discurso de oposição” que Dona Iris adota e estimula é o
da crítica imoderada ao governador Perillo. O adjutório a que a deputada se
refere é a comunhão entre oposição e situação e tem endereço certo nos aliados
Gomide, que dialoga com Perillo, e Maguito Vilela (prefeito de Aparecida), que
insiste em propagandear seu bom relacionamento “administrativo” com o tucano.
É possível agregar algum conteúdo explosivo à volúpia
oposicionista de Dona Iris. Basicamente, a deputada quer investir na associação
de Perillo com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Entretanto, essa pode ser
uma estratégia de aniquilição geral. Em doses distintas, é certo, na Operação
Monte Carlo aparecem Maguito, Gomide e a empreiteira Delta, que negociou com
Iris durantes seus anos de Prefeitura de Goiânia e com outras prefeituras do
PMDB. A situação vai explorar isso, é claro.
Além disso, o PSDB também já mostrou os dentes, através do
presidente Paulo de Jesus: se o tema Cachoeira vier à tona na campanha,
emergirão todos os naufrágios do PMDB, como os casos Caixego, Astrográfica,
BEG, BD etc.
E mais: na hipótese de um endurecimento na campanha, o
contraventor pode assumir um lado, lançar mão de sua lendária videoteca, juntar
todos no mesmo saco e nivelar completamente a política e os políticos goianos.
E é necessário considerar que em dois vídeos vazados pelo contraventor o PT era
o alvo: Otoni e o prefeito de Palmas, Raul Filho. Se todos forem
encachoeirados, bom para Perillo.
Resta Junior, que até ensaia um discurso mais contundente
contra Perillo. Mas, provavelmente, não irá manter essa índole diante da menor
ameaça de revide tucano, que pode resultar numa CPI do Boi na Assembleia muito
nociva para os negócios da família.
Em suma, não há no campo da aliança PT-PMDB nome com o
perfil defendido por dona Iris a não ser ela própria.
A questão é que a realização do desejo (consciente ou
inconsciente) da deputada de encabeçar uma disputa ao governo de Goiás é
praticamente impossível.
Se com Iris há divisões até mesmo no PMDB, com Dona Iris o
partido se esfacelaria completamente e uma composição com o PT tornar-se-ia
impossível. E isso até mesmo a deputada tem de reconhecer.
Portanto, as declarações de Dona Iris podem até estimular a
militância virtual do PMDB, mas em nada contribui com a união das forças
opostas a Perillo. Ao contrário, a fragiliza.
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